
O soldado Marcelo Viana dos Santos, 28, está na Polícia
Militar de Pernambuco desde 2010 e atua em Recife.
Ele nasceu mulher e descobriu que era transexual aos 21
anos, quando trabalhava como professor de matemática em uma escola municipal.
Desde então, passou a vestir roupas masculinas, mas não
tinha dinheiro para fazer tratamento. Isso só foi possível quando já estava na
PM.
Assim como outros transexuais, teve medo de ser rejeitado na
profissão e optou pela identidade feminina no início.
Confira seu relato.
A descoberta da transexualidade
Sempre achei que tinha alguma coisa errada comigo, mas eu
não sabia exatamente o que era.
Vivia muito deprimido e tinha várias crises existenciais. Pensei que era homossexual e me assumi. Só que, mesmo no meio das lésbicas, eu não me sentia bem.
Vivia muito deprimido e tinha várias crises existenciais. Pensei que era homossexual e me assumi. Só que, mesmo no meio das lésbicas, eu não me sentia bem.
Aos 21 anos, entendi porque eu tinha dificuldades tão
grandes.
Conheci o Leonardo Tenório, que é um transexual de Pernambuco.
Quando eu conversei com ele, senti que era realmente naquilo que me encaixava.
Mas as cirurgias eram muito caras e eu não teria o apoio dos meus pais, católicos fervorosos.
Conheci o Leonardo Tenório, que é um transexual de Pernambuco.
Quando eu conversei com ele, senti que era realmente naquilo que me encaixava.
Mas as cirurgias eram muito caras e eu não teria o apoio dos meus pais, católicos fervorosos.
Eu sabia que tinha de trilhar sozinho. Sabia que tinha de
conseguir um emprego um pouco melhor.
Tive muita sorte. Mesmo sem tomar hormônios, já tinha muitas
características masculinas, como uma voz um pouco mais grossa.
Fui fazendo minha transição com o que eu tinha em mãos, fui vestindo roupas masculinas. Mesmo sem tomar hormônios, ninguém me confundia mais com uma mulher.
Fui fazendo minha transição com o que eu tinha em mãos, fui vestindo roupas masculinas. Mesmo sem tomar hormônios, ninguém me confundia mais com uma mulher.
A entrada na PM

Ele colocava o quepe na minha cabeça e eu saía correndo todo feliz. Queria muito ser igual a ele desde criança.
Quando surgiu o concurso da PM, optei pela identidade
feminina para não sofrer nenhum tipo de problema nas provas físicas e até no
curso de formação.
Naquela época tinha muito medo de ser excluído da Polícia.
Era meu único meio de sustento.
Mas meus superiores me orientaram que esse tipo de situação não seria motivo para minha exclusão e deram apoio.
Assim que terminou o curso, comecei novamente a montar minha transição.
Mas meus superiores me orientaram que esse tipo de situação não seria motivo para minha exclusão e deram apoio.
Assim que terminou o curso, comecei novamente a montar minha transição.
Na realidade, não era surpresa para ninguém que eu sou
transexual. Bastava olhar para mim.
Não é algo que dá para esconder. Me passei por mulher, mas era como se eu fosse uma mulher muito estranha.
Então, quando eu voltei a vestir roupas masculinas e comecei a tomar hormônios, não foi choque para ninguém.
Não é algo que dá para esconder. Me passei por mulher, mas era como se eu fosse uma mulher muito estranha.
Então, quando eu voltei a vestir roupas masculinas e comecei a tomar hormônios, não foi choque para ninguém.
Meus colegas têm de me respeitar por eu ser PM e por não
estar fazendo nada absurdo, nada contrário às normas. E realmente me respeitam.
Mas o preconceito é encontrado em qualquer momento, não só no meu trabalho, mas em vários outros âmbitos da minha vida. Ele está enraizado na sociedade, e a PM não é diferente.
Mas o preconceito é encontrado em qualquer momento, não só no meu trabalho, mas em vários outros âmbitos da minha vida. Ele está enraizado na sociedade, e a PM não é diferente.
Cirurgia
Faz dois anos e meio que fiz a cirurgia. Na época, o centro
de referência para pessoas transexuais do Pernambuco estava fechado.
Consegui um médico no centro de referência de João Pessoa para me operar.
Como não moro lá, tive de pagar o tratamento.
Consegui um médico no centro de referência de João Pessoa para me operar.
Como não moro lá, tive de pagar o tratamento.
Juntei dinheiro por algum tempo, mas mesmo assim não foi
suficiente.
Fiz um empréstimo que pago até hoje e termina em novembro. Mas vou precisar fazer outras cirurgias.
Essa foi a primeira. Vou ter de pegar outro empréstimo para continuar a transição.
Há um trans que já gastou R$ 80 mil com as dele. Espero não ter de gastar isso tudo.
Fiz um empréstimo que pago até hoje e termina em novembro. Mas vou precisar fazer outras cirurgias.
Essa foi a primeira. Vou ter de pegar outro empréstimo para continuar a transição.
Há um trans que já gastou R$ 80 mil com as dele. Espero não ter de gastar isso tudo.
Relação com os pais
Muito tempo se passou desde que me descobri transexual. Sou
um homem feito.
Já tive bastante tempo. Meus pais perceberam que, se eles continuassem com o preconceito, tudo que conseguiriam seria me afastar.
Eles não aceitam completamente, mas me respeitam.
Já tive bastante tempo. Meus pais perceberam que, se eles continuassem com o preconceito, tudo que conseguiriam seria me afastar.
Eles não aceitam completamente, mas me respeitam.
Minha mãe não consegue me chamar de Marcelo. Ela usa
palavras neutras para disfarçar.
Eu não sei como ela consegue fazer isso o tempo todo. Meu pai me chama no masculino quando minha mãe não está vendo.
Eu não sei como ela consegue fazer isso o tempo todo. Meu pai me chama no masculino quando minha mãe não está vendo.
Casamento
Conheci minha mulher em maio do ano passado e casei em
setembro. Foi bastante rápido.
Ela tem uma mente muito aberta e não tive problema algum. Foi amor à primeira vista.
Ela tem uma mente muito aberta e não tive problema algum. Foi amor à primeira vista.
Optei por uma união estável, porque estou trocando meu nome
na Justiça. Só quero fazer uma certidão de casamento quando já estiver com o
nome trocado.
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