
Muitos são os sinais de que Gloria Perez errou a mão em
“Salve Jorge”, a novela das 21h da Globo com mais baixa audiência na história.
Mas o que a levou a perder o rumo de forma tão gritante? Tenho algumas
hipóteses. A principal é que o método que fez a fama da autora não tem como
funcionar numa trama essencialmente policial.
Em suas novelas, Gloria sempre apostou na ideia de que o
espectador aceita os maiores absurdos em troca do prazer de curtir uma boa
história. “Todos nós precisamos sonhar. Sonhar faz parte das necessidades
humanas. Se a novela cumpre essa função, já faz o seu papel”, ela disse uma
vez.

O problema é que a trama central de “Salve Jorge” era um
enredo policial. E não há leitor ou espectador que aceite “sonhar” ou “voar”
quando está acompanhando uma história do gênero. Pistas falsas, lançadas
intencionalmente pelo autor, tudo bem. Mas erros, furos, incoerências, falta de
nexo são inaceitáveis. Num sinal de que não entendeu o problema que criou,
Gloria Perez enxergou “patrulhamento da criatividade” onde havia cobrança por
lógica.

Para piorar, a autora errou na mão na caracterização de seus
vilões. O texto que escreveu para a líder da gangue, Livia, tinha um tom
involuntariamente cômico, que remetia ao “TV Pirata”. Russo, segurando um
gatinho, parecia personagem de “Austin Powers”, uma paródia de James Bond.
Irina, sempre sentada, foi a vilã mais bizarra da temporada. Só Wanda se salvou
da comédia, talvez por mérito da atriz Totia Meirelles, que conseguiu
transmitir humanidade ao personagem. Ainda assim, a personagem falou uma das
frases mais cômicas da novela, ao se confrontar com a chefona no penúltimo
capítulo: “Meu revólver é mais rápido que a sua seringa”.

Nunca uma novela teve tantos personagens “orelha”, escalados
exclusivamente para contracenar como coadjuvantes de outros coadjuvantes. A
lista é enorme: Cacilda (Rosi Campos) só contracenava com Aurea (Suzana Faini),
Maitê (Ciça Guimarães) com Bianca (Cleo Pires), Julia (Cris Vianna) com Erica
(Flavia Alessandra), sem falar no núcleo da Capadócia, com um sem número de
personagens sem razão de existir.
Também foi motivo de piada, e ajudou no descrédito da
novela, o sumiço sem explicação de uma série de personagens, a começar por
Beto, o marido de Morena (foi morto, alguém disse), passando por Miro (Andre
Gonçalves), Yolanda (Cristiane Oliveira) e Dalia (Eva Tudor), entre outros.
Diante das reclamações e protestos, Gloria Perez tentou
manter a altivez, o que é elogiável. Sempre repetia que o pior que pode
acontecer a uma novela é “a indiferença”. Demorou, porém, a se dar conta que
sua novela havia se transformado em motivo de pilhéria. Foi quando começou a
bater na tecla conspiratória de que havia gente recebendo para falar mal de
“Salve Jorge”. Foi triste.
Para agravar ainda mais a situação, “Salve Jorge” padeceu de
sérios problemas de produção e acabamento, inimagináveis em novelas deste
horário. Erros de continuidade e cenas mal dirigidas chamaram a atenção do mais
desatento dos espectadores, criando uma legião de “detetives”, que se divertiam
vendo falhas na novela.
O último capítulo da novela repetiu todos os problemas
mencionados aqui. A lista é enorme e merece até um outro texto. Mas cito
alguns. A policial Jô algema Russo na cama e chama as prostitutas para se
vingarem dele com a anuência da delegada Helô? O que aconteceu com Russo? E com
Irina? Por que somente “tempos depois”, Theo e Morena voltaram da Turquia? O
que ficaram fazendo lá?
Se o “Video Show” quiser, tem assunto para o quadro “Falha
Nossa” até o final dos tempos.
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